A mineração segue descarbonizando-se
Avanços recentes no setor mostram que minas totalmente elétricas já são realidade, ao menos em alguns locais do mundo
Por Fausto Almeida*
Ao longo de 2024, o setor mineiro testemunhou avanços em sua jornada de descarbonização, cuja meta é de tornar-se neutro em emissões até 2050, conforme o compromisso firmado pelas mineradoras do conselho ICMM, de mineração e metais, que respondem por 30% da produção mundial de minerais.
Os avanços surgiram no fronte das extrações, com as primeiras minas efetivamente operadas a partir de energia descarbonizada e renovável, e também no da tecnologia, já capaz de pôr no mercado os primeiros modelos de equipamentos pesados livre de emissões diretas, que não usam mais o diesel como fonte de energia primária.
Na mineração, destaco aqui a consolidação do primeiro projeto mineral totalmente elétrico do mundo: a mina subterrânea Onaping Depth, em Ontário, Canadá, projeto de US$ 1,3 bilhão de investimento da canadense Glencore, para extrair minérios ricos em cobre e níquel, aliás, essenciais à descarbonização dos demais setores da economia global.
Atualmente, a Onaping Depth opera só com veículos à bateria. Esses equipamentos, aliás, vêm permitindo que a operação de extração mineral seja realizada a profundidades maiores, por não emitirem gases e por permitirem um custo de ventilação inferior ao que seria necessário para tornar segura a operação com veículos à diesel no subsolo.
A canadense Nouveau Monde Graphite, operadora da mina de grafite Matawinie, no Quebec, anunciou que vai adquirir uma frota de veículos de zero emissões para a Fase 2 do projeto mineral, que prevê um complexo de beneficiamento de grafite com capacidade para concentrar 103 mil toneladas do material por ano. Para esse projeto, a ABB está implantando a subestação de energia, que fará a conexão da rede elétrica local, abastecida por hidroeletricidade, à mina, que pode ser a primeira extração a céu aberto 100% elétrica daqui a algum tempo, quando os planos da mineradora amadurecerem.
A também canadense Newmont Goldcorp anunciou a substituição de todo maquinário a diesel operado na mina subterrânea de ouro de Borden, no Canadá, por modelos a bateria. A troca incluiria equipamentos como perfuratrizes, bolters, veículos de transporte de pessoal e materiais e caminhões de minério de 40 toneladas, que, se efetivada, deve reduzir em pelo menos 50% as emissões daquele site.
Na América do Sul, a chilena Antofagasta Minerals também anunciou a intenção de implantar linhas de transporte mineral eletrificadas, segundo memorando de entendimento recentemente assinado com a ABB, na mina a céu aberto de cobre de Los Palambres, ao norte de Santiago. A empresa também anunciou a intenção de adquirir veículos de zero emissões para a operação, hoje realizada com caminhões já enquadrados pesados.
Em outros artigos meus, havia mencionado, ainda, as minas de cobre a céu aberto Copper Mountain, no Canadá, e Aitik, na Suécia. Essas extrações usam caminhões híbridos diesel-eletricidade e realizam a maior parte de seus trajetos na energia elétrica, fornecida por trolleys inteligentes da ABB, recorrendo ao diesel só nas sobrecargas, contingência que fez as emissões associadas à queima de combustível fóssil caírem 90% nos dois locais.
Todos esses avanços só podem ser hoje noticiados porque a indústria de equipamento pesado e o setor de mobilidade elétrica investiu em pesquisa para viabilizar veículos elétricos e soluções acessórias que tornassem viável a operação deles, como carregadores rápidos, sistemas de gestão de recursos energéticos e até um robô de recarga, criado pela ABB para evitar que pessoas corram risco de serem eletrocutadas no processo.
A fronteira do desenvolvimento tecnológico, no momento, está na eletrificação dos caminhões pesados e ultrapesados, ou seja, acima de 200 toneladas. Nesse fronte, a Caterpillar e a Liebherr seguem buscando baterias capazes de mover caminhões de seus portfólios com capacidade em torno de 250 toneladas. A GM e a Komatsu buscam uma célula de hidrogênio capaz de mover o caminhão Komatsu 930E, de 320 toneladas.
Este caminhão, aliás, teve recentemente seu projeto atualizado, para que pudesse ser retrofitado ao longo de sua vida útil e operar com outras fontes de energia além do diesel. Outro esforço digno de menção é o da fabricante de motores Perkins, que está desenvolvendo um motor flex com potência equivalente à de um bloco a diesel de sete litros, só que movido a hidrogênio, eletricidade, etanol, metanol e biometano.
E, enquanto essas tecnologias não estão disponíveis, mineradoras que operam pesados seguem no esforço de diminuir emissões, a exemplo da Rio Tinto, que anunciou a intenção de investir na produção de biodiesel de menos emissões para mover a frota pesada das minas de cobre Kennecott e Boron, ambas nos Estados Unidos.
Claro que muito ainda precisa ser feito, para que a mineração consiga atingir as metas de sustentabilidade que fixou para si mesma. É inegável, no entanto, que a inventividade humana está conseguindo dar uma resposta a esse desafio, do qual também depende a descarbonização dos demais setores da economia global. Então, que tenhamos sucesso!
(*) Fausto Almeida é diretor de negócios da BL de Mineração da ABB PAPI para América Latina.
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